1924 – Reatadas relações com o FC Porto na Taça Soares Júnior

31 de Janeiro de 1924. Depois da finalíssima da 1ª edição do Campeonato de Portugal, a 18 de Junho de 1922, na qual o FC Porto bateu o Sporting por 3-1, azedaram-se ânimos, e os leões, sentindo-se de orgulho ferido, decidiram cortar relações com os portistas. Cerca de um ano e meio depois os dirigentes de ambos os clubes aceitaram “fumar o cachimbo da paz”. Para tal, nada melhor que um jogo no Porto, colocando-se em disputa a Taça Soares Júnior.

A viagem fez-se, como sempre acontecia, de comboio. A chegada dos leões a S. Bento foi apoteótica, com milhares de pessoas à espera da comitiva “abafando-a” com vivas, a tal ponto que foi difícil chegar aos automóveis que a esperavam para a levar ao hotel da Batalha onde se iria instalar. A euforia foi tanta que os sportinguistas foram forçados a aparecer nas janelas do hotel, de onde foram contemplados com aclamações e aplausos que nunca mais acabavam.

Chegada a hora do jogo, já no campo, impressionou um imponente marcador (novidade para a altura), para além de uma multidão compacta que se aglomerava em volta do terreno da Constituição, com uma lotação muito além das suas capacidades. As duas equipas alinharam-se lado a lado, com uma pouco habitual comparência de fotógrafos, que aumentou ainda com a entrada lado a lado dos presidentes Pedro Sanches Navarro e Domingos Soares com colossais ramos de flores. Trocaram-se depois os ditos, avultando um forte abraço presidencial, a saudação das equipas e uma fantástica ovação de todo o povo, que estava definitivamente em estado de graça para com ambos os contendores.

O Sporting, orientado por Augusto Sabbo, alinhou com: Cipriano; Joaquim Ferreira e Jorge Vieira; José Leandro, Filipe dos Santos e Seabra; Torres Pereira, João Francisco, Alfredo de Sousa, Emílio Ramos e Carlos Fernandes.

O jogo propriamente dito foi verdadeiramente amigável, tendo o Sporting alcançado uma significativa vitória por 2-1 (golos de Carlos Fernandes e Jorge Vieira) depois duma partida equilibrada, bem jogada e corretamente arbitrada.

Apesar de tudo, os leões, desfalcados de Francisco Stromp, Jaime Gonçalves e Henrique Portela, não estiveram ao seu melhor nível. Ainda assim venceram com justiça o animado adversário, para além de desperdiçarem um penalty por Filipe dos Santos.

Grandes doses de emoção voltariam no banquete após a partida, no Palácio de Cristal. Simbolicamente, na sala de chá, uma mesa enfeitada com fitas verdes e camélias brancas tinha espalhados os troféus mais importantes da História do FC Porto. Após discursos emocionados com elogios rapartidos, Domingos Soares entregou a taça Soares Júnior, que os futebolistas sportinguistas haviam conquistado no terreno de jogo, a Pedro Sanches Navaro, que num gesto comovente o depositou nas mãos de Soares Junior, o principal responsável por todo este clima de harmonia. Do discurso de Pedro Sanches Navarro uma das passagens mais importantes foi a afirmação de que “O Sporting poderia perder o jogo que sairia sempre ganhando do Porto, pois levava consigo o mais precioso penhor, a amizade dos desportistas portuenses”.

Ao jornal “Os Sports”, Jorge Vieira (foto de arquivo) afirmou: “Estou satisfeitíssimo e penhorado pela amabilidade com que nos têm distinguido. A receção excedeu todas as nossas expectativas. Estamos inteiramente reconhecidos não só ao FC Porto como a todos os clubes que nos têm cumprimentado. Estou absolutamente convencido do estreitamento de relações entre Lisboa e o Porto. Sobre o onze portista, pareceu-me mais fraco, devido talvez às modificações introduzidas no team, mas agradou-me no conjunto”.

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