1964 – A vitória na Taça das Taças de Futebol

15 de Maio de 1964. Após uma prova que foi um verdadeira epopeia e uma final empatada a 3 bolas não havia volta a dar, era mesmo preciso uma finalíssima para atribuir a Taça das Taças.

Na noite anterior ao jogo Morais sonhou que marcara um golo de canto direto. Foi preciso Carvalho revelá-lo ao treinador (com quem o defesa-extremo andava de candeias às avessas, pois só devido à lesão de Hilário foi convocado para esta partida decisiva) e a situação deixou algumas marcas nos responsáveis sportinguistas. Ao fim e ao cabo lá decidiram – seria Morais a executar os pontapés de canto.

A equipa do Sporting, entretanto, estava num caos. Geo e José Carlos tinham entorses e quase todos os elementos apresentavam uma ou outra mazela. O “milagreiro” massagista Manuel Marques fez o que pôde, e foi possível apresentar um onze em razoáveis condições nessa tarde, no Estádio de Deurne, em Antuérpia. Anselmo Fernández apresentou: Carvalho; Pedro Gomes, Alexandre Baptista, Mendes (cap) e José Carlos; Péridis e Géo; Osvaldo Silva, Mascarenhas, Figueiredo e Morais.

Este jogo foi disputado com muito mais energia e rispidez que o anterior (o da final). As equipas entregaram-se à luta com o espírito do tudo ou nada, como se fosse o último jogo da vida de cada um daqueles jogadores. Um empate daria moeda ao ar, pelo que ambas as equipas fizeram tudo para ganhar. O Sporting estudou bem a “lição” de Bruxelas e quis mandar no jogo, retificando as marcações e aplicando maior rapidez ao seu futebol.

Aos 20 minutos os leões obtiveram o único golo da partida. Num canto sobre a esquerda do seu ataque Morais apontou com o pé de dentro, batendo a bola em arco a cair sobre a baliza de Kovalik. Este saltou, mas perturbado pela presença (estratégica) de Figueiredo, não lhe chegou, e a bola entrou. Estava feito o golo que seria da vitória! Até ao intervalo o Sporting podia e devia ter definido o vencedor da competição mas os seus avançados estavam muito menos inspirados que em Bruxelas.

Na 2ª parte, sobretudo nos minutos finais, os húngaros deram o que tinham e o que não tinham para empatar a partida. A 1 minuto do fim tiveram a sua melhor oportunidade com um remate fortíssimo à trave da baliza de Carvalho… O futebol praticado nesta finalíssima foi de qualidade inferior à da final, mas os leões tiveram mais força e temperamento, funcionando como um coletivo homogéneo.

Nas cabinas não acabavam os abraços e as lágrimas. Osvaldo Silva, talvez a grande figura do Sporting em todo o Torneio, afirmou: “Sinto imensa satisfação com este triunfo”. Morais, o do golo decisivo, não cabia em si de contente: “Não posso descrever o que sinto neste momento inesquecível. Dedico tão grata vitória ao meu camarada Hilário que viveu connosco toda este jornada da final. Quanto ao golo, devo dizer que marquei os cantos sempre da mesma maneira, e já desesperava quando vi a bola finalmente colar-se ao fundo das malhas da baliza dos húngaros. Esta data fica gravada para sempre na minha memória”.

Ao cabo de 19 horas de jogo o Sporting vencia a sua 1ª competição europeia. Carvalho e Mendes, os totalistas, receberam cada um 73 contos (foram os que mais embolsaram) mas o total de prémios foi significativo. Basta dizer que os futebolistas leoninos recebiam em média 4 contos mensais e que o salário mínimo nacional andava pelos 400 escudos.

A chegada a Lisboa foi naturalmente apoteótica. Os jogadores sairam do aeroporto da Portela em automóveis descapotáveis com balões e grandes bandeiras do clube. O primeiro destino foi a casa de Hilário – a quem mostraram a taça ganha, não faltando lágrimas de emoção nos mais variados rostos (de referir que o defesa sportinguista recebeu, por imposição dos colegas à direção, o prémio de 20 contos pelo triunfo na final). Depois foi a receção de Salazar em São Bento. O “ditador” quis tocar na Taça…

Na foto, a equipa vencedora. De cima para baixo e da esquerda para a direita: Carvalho, Manuel Marques (massagista), Péridis, Fernando Mendes, Anselmo Fernández (treinador), Alexandre Baptista, Reboredo (treinador adjunto), Pedro Gomes, José Carlos e Reis Pinto (preparador físico); Osvaldo Silva, Mascarenhas, Figueiredo, Géo e Morais.

video

Post to Twitter

2 Comments

  1. Sejam bem-vindos todos os que vierem por bem, seja o seu coração da cor que fôr!
    O 5º senhor na fila de cima (da esquerda para a direita) é, tal como refere a legenda, o treinador da altura – Anselmo Fernández. Não se trata de Mário Cunha, o homem que “mandava” no futebol leonino na altura, que de facto, bem podia constar da foto, mas na realidade não consta.

  2. Desculpe a intromissão de um benfiquista, mas veja lá se o 5ª Senhor, em cima, a partir da esquerda, não seria o senhor Mário Cunha, meu primo, então Chefe do Departamento de Futebol!
    Saudações.

Submit a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Confirm that you are not a bot - select a man with raised hand:

Content Protected Using Blog Protector By: PcDrome.