4 de Julho de 1948. Após a conquista da Taça de Honra da AFL (que nessa época substituiu o Regional lisboeta) e o Campeonato Nacional, o Sporting defrontou na final da Taça de Portugal a equipa do Belenenses. Nessa partida o capitão do Sporting, Álvaro Cardoso, anunciou a sua despedida do futebol.

O Sporting, dizia-se na altura, era uma equipa que valia por uma seleção, e onde pontificava um quinteto atacante (batizado de “5 violinos” pelo jornalista Tavares da Silva) que arrasava qualquer adversário. Orientada por Cândido de Oliveira, a equipa leonina presente no Estádio Nacional foi a seguinte: Azevedo; Álvaro Cardoso (cap) e Juvenal; Canário, Manecas e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.

O Sporting não teve grandes dificuldades para vencer, mas não terá realizado das melhores exibições da época. Algum vento amenizou o muito calor que se fazia sentir no vale do Jamor. A partida começou a “animar” logo nos primeiros minutos com a lesão de Azevedo, que saiu da baliza a cortar uma fuga perigosa de Quaresma. O Sporting ficou em inferioridade, com Veríssimo da baliza, mas os de Belém, apesar do seu domínio territorial, não conseguiram sequer rematar com perigo… Com o regresso de Azevedo, uns 20 minutos depois, o Sporting voltou a ganhar confiança e predominância no confronto.

Aos 29 minutos Vasques correu a uma bola que parecia perdida e centrou atrasado para Peyroteo que disparou para o fundo das redes – era o 1-0. 6 minutos depois, em fase de verdadeiro massacre à baliza de Sério, Serafim acabou por deitar a mão à bola. Albano, no respetivo penalty, aumentou a contagem.

O Belenenses entrou bem no 2º tempo. Quaresma e Pinto de Almeida trocaram de posições e a estratégia deu certo. Aos 52 minutos, a centro do novo extremo, Teixeira da Silva reduziu a marca. Azevedo, apesar de magoado, esteve então em foco, intervindo de forma decisiva por duas ou três vezes evitando o empate. Entretanto, após o ligeiro abanão, o Sporting reagiu com firmeza, conseguindo o 3-1 aos 65 minutos por Peyroteo após centro de Albano e apesar do arrojado mergulho de Sério, que se lesionou na cabeça e teve de sair.

Daí até final, em superioridade numérica, o Sporting foi “dono e senhor” do jogo, dominou como quis mas não mostrou engodo pela baliza, preferindo gerir a posse da bola com passes lateralizados constantes. Se tivessem forçado um pouco mais os leões poderiam ter conseguido um resultado bem mais amplo, mas a época também já ía longa…

Segundo o jornal “A Bola”: “Entre os sportinguistas Albano salientou-se como executante formidável – nesta tarde esteve fantástico. Peyroteo, Vasques e Álvaro Cardoso fizeram uma exibição sem erros, mas justa será uma menção especial a Manecas, que esteve imperial como defesa/médio centro”.

Álvaro Cardoso, que se despediu aqui dos campos de futebol, referiu no final: “Fechámos a época com chave de ouro. A grande alegria que esta vitória me proporcionou tem a ensobrá-la a profunda mágoa que sinto neste momento ao descalçar pela última vez as botas que durante tantos anos calcei, e quando digo botas quero dizer a camisola que há 10 anos represento com o maior dos orgulhos. Custa muito. Tanto que a comoção me invadiu de novo ao agradecer há pouco a manifestação que os sócios do Sporting me dispensaram como lenitivo compensador de algumas amarguras, filhas da incompreensão dos homens. Não me retiro liquidado, mas embora ainda pudesse continuar, julgo oportuno o meu afastamento. Quanto ao jogo, ganhámos bem graças ao espírito de sacrifício do Azevedo que não abandonou a equipa apesar de ter um pé lesionado. O Belenenses foi, como sempre, um adversário difícil e inexcedível de correção. Não distingo qualquer dos meus colegas de equipa pois em cada um vejo um camarada, um amigo. As nossas vitórias só foram possíveis pelo seu espírito de camaradagem, porque todos jogaram para a equipa com um único pensamento – o Sporting”.

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