O caso raro do “Dr.” Abrantes Mendes

24 de Novembro de 1929. Em jogo disputado no Campo Grande para o Campeonato Regional de Lisboa, o Sporting venceu o Carcavelinhos por 3-0 com 3 golos de Rogério. No entanto, o facto mais saliente dessa partida foi a circunstância de constituir o 1º jogo de Abrantes Mendes após a sua formatura em Direito.

No jornal do Sporting pôde ler-se por essa altura: “Abrantes Mendes constitui o caso raro de ser jogador internacional de futebol que obteve a sua formatura em Direito e continua a honrar o Sporting com o seu inexcedível amor, mantendo corajosa e desassombradamente a sua atividade desportiva, desprezando com altivez os preconceitos retrógados da sociedade (…) Para o dr. Abrantes Mendes o desporto continua a ser o mesmo apaixonado derivativo que, antes da formatura, seduzira o estudante António Abrantes Mendes”.

A verdade é que o interior direito sportinguista (Mourão aos 18 anos já tomara conta da ponta-direita) mesmo depois de ser “doutor” continuou a brilhar pelos campos de futebol. Nesta temporada, por exemplo, foi com Rogério o grande concretizador da equipa.

Numa altura em que a questão de jogadores amadores ou profissionais gerava grande controvérsia, Abrantes Mendes deu uma interessante entrevista ao Jornal “Os Sports” onde afirmava, entre outras coisas: “Nunca pensei ser profissional (…) Pela minha situação social manter-me-ei sempre amador, mas se fosse estudante não me repugnaria ser profissional (…) Creio que o profissionalismo poderá vingar entre nós e considero-o como um meio de solução da crise de jogadores e dirigentes. Os jogadores contraíam mais responsabilidades, os clubes poderiam exigir mais (…) Há jogadores que atualmente recebem, mas os clubes não podem exigir nada (…) Não haveria dificuldades financeiras pois o público sabendo que lhe seriam apresentados bons espetáculos acorreria em massa aos campos, tudo depende da qualidade de jogo (…) A mistura de amadores com profissionais não teria qualquer problema, pois uns jogavam por prazer e outros como emprego (…) O dia mais feliz da minha vida desportiva foi quando batemos o Benfica por 3-0 na final do Campeonato de Lisboa. O mais infeliz foi quando perdemos no Rio de Janeiro por 3-2 com uma seleção (Carioca), porque foi uma derrota imerecidíssima”.

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