31 de Dezembro de 1956. Um tanto surpreendentemente, Manuel Faria recusou a sua participação nos Jogos Olímpicos de Melbourne por estar convicto de que ainda não tinha condições para se bater com os mais fortes atletas mundiais. Orientado por Luís Aguiar, o português treinava todos os dias, mantendo a sua profissão de empregado de escritório. Alguns (poucos) meses depois, pouca gente suporia aquilo que se iria passar.
Com mais de 300 atletas à partida, e cerca de 900.000 pessoas a assistir, a S. Silvestre de São Paulo de 1956 para 1957 foi um espetáculo memorável. Milhares de portugueses acorreram a incentivar o nosso Manuel Faria conhecedores dos seus mais recentes êxitos em Lisboa e Barcelona.
Sem ter feito qualquer preparação especial para esta competição, Manuel Faria chegou a São Paulo no dia de Natal e logo começou a treinar com grande afinco. A vitória, muito difícil mas possível, abrir-lhe-ia as portas dos grandes “meetings” internacionais.
Toda a imprensa do Brasil começou a reparar na categoria do nosso franzino campeão e a considerá-lo como um dos principais favoritos da prova, apesar da concorrência de atletas de grande nomeada. Alheio a tudo isto, Faria preparava-se para a “corrida da sua vida” com uma fé inabalável nos seus recursos. O decorrer da prova veio a confirmá-lo. Manuel Faria fez parte de um lote que integrava os mais favoritos até meio do percurso, mas na metade final, sob os aplausos frenéticos dos seus compatriotas, a sua corrida foi fenomenal.
Um a um os seus adversários foram sendo ultrapassados, e a 500 metros do fim Manuel Faria era o comandante destacado da prova. Aí, o jugoslavo Draje fez um derradeiro apelo a todas as suas energias e aproximou-se perigosamente, mas o nosso atleta, num arranque fantástico, respondeu com decisão e venceu, com uma multidão a “puxá-lo” em delírio.
Finda a corrida, escorrendo suor e lágrimas, Manuel Faria disse: “Dedico esta vitória inesquecível ao meu querido Portugal e a toda a colónia portuguesa deste país irmão que tanto me apoiou”.
Esta foi a 1ª grande vitória do Atletismo português tal como confirmam as palavras, na altura, do prof. Mário Moniz Pereira: “Não há dúvida que esta vitória de Manuel Faria excede tudo quanto seria possível imaginar, e passa a ser o maior feito que alguma vez um atleta português conseguiu no estrangeiro”.
Honra à memória de Manuel Faria, esse grande atleta, e a prova de que um clube não é grande só quando tem êxitos no futebol. O Sporting foi uma fábrica de grandes atletas, através do “Primeiro Passo”. É, hoje, o clube com mais ginastas. São estes “pequenos” detalhes que fazem um grande clube.