28 de Março de 1915. Este dia ficou para sempre ligado à História do Sporting. Finalmente a equipa de Futebol conseguia o título mais almejado na altura – o de Campeão Regional de Lisboa.
Nessa tarde, no Stadium de Lisboa, bastava um empate aos benfiquistas para vencerem mais um Campeonato (pois tinham ganho por 3-0 em Sete Rios, na estreia oficial de Jorge Vieira…). Nessa partida decisiva, sob a arbitragem de Boo Kullberg, do CIF, o Sporting jogou com: Jorge Mórice; Amadeu Cruz e Jorge Vieira; Raúl Barros, Artur José Pereira e Boaventura da Silva; António Stromp, António Rosa Rodrigues, Francisco Stromp (cap), William Morice e Armour.
Num jogo muito enérgico e rápido o Benfica marcou primeiro numa jogada de grande confusão, mas 2 minutos depois Armour restabeleceu o empate numa partida de chuva em piso escorregadio.
Estavam passados apenas 18 minutos quando William Morice caiu e sofreu uma distensão num ligamento do joelho, o que o impediu de continuar a jogar. Toda a gente ligada ao Sporting ficou extremamente apreensiva. Num jogo em que era imperioso vencer a equipa ficava reduzida a 10 elementos por tanto tempo… Apesar disso, apenas 6 minutos depois, Francisco Stromp (com um forte pontapé) pôs os leões na frente após um ataque bem conduzido. As palmas e os gritos de entusiasmo eram muitos.
O Benfica reagiu, mas Jorge Morice respondia sempre com acerto. Entretanto Armour colocava-se constantemente em fora de jogo, e a arbitragem enganava-se com frequência desusada…
A 2ª parte começou algo frouxa. A certa altura António Stromp avança a grande velocidade, há uma falta que o árbitro apita, mas Stromp e parte do público não houvem. O extremo sportinguista acaba por fazer golo, que é anulado, para grande desapontamento de parte da assistência. O jogo anima-se e António Stromp consegue fazer o 3-1 com um bom pontapé.
A partir daí o Benfica tenta desesperadamente reagir mas a defesa sportinguista mostra-se muito rápida. A partida termina com a vitória sportinguista. Ouvem-se palmas, gritos de entusiasmo e o grito de guerra dos leões, em que havia uns ecos de hino de peles vermelhas! Na equipa leonina distinguiram-se Jorge Vieira (“um novo com grandes aptidões”), Raúl Barros (defendeu muito bem), Amadeu Cruz (“já não tinha falhanços que estragassem as suas exibições”), Boaventura da Silva e Francisco Stromp. Artur José Pereira, bastante magoado, não conseguiu explanar o seu excelente futebol. António Stromp e António Rosa Rodrigues conseguiram fazer o máximo possível perante o estado do campo.
O Sporting ganhou e mereceu a vitória, porque soube trabalhar para ela. Durante toda a partida foi superior, mostrou mais vontade, e sob a batuta de Francisco Stromp – que acumulou as funções de capitão e treinador, alcançou uma justíssima vitória. Os leões mostraram-se melhor treinados, mais homogéneos, dispostos a ganhar a todo o custo mesmo quando ficaram com 10 homens com o resultado ainda num empate a 1 golo.
No jornal “A Capital” afirmava-se que: “O Sport Lisboa e Benfica, habituado a ganhar quase sempre, soube sofrer a derrota sem a menor manifestação de indisciplina, desmentindo assim os vários boatos tendenciosos que corriam” (de graves problemas de comportamento).
Os sócios do Sporting foram gentilíssimos com os jogadores do Benfica, oferecendo-lhes no final uma taça de champanhe. À noite reuniram-se no restaurante Club num animado e entusiástico banquete de confraternização onde Daniel Queirós dos Santos e Francisco Stromp discursaram, com grandes elogios para o seu grande rival. A vitória do Sporting foi considerada pela generalidade dos amantes do futebol como uma “lufada de ar fresco” na modalidade. Houve mesmo quem dissesse que ela impediu a “débacle deste belo exercício atlético” marcando o início duma nova era.
Na imagem, de cima para baixo e da esquerda para a direita: Jorge Vieira, Amadeu Cruz, Raúl Barros, Artur José Pereira, Boaventura da Silva e Jorge Morice; António Stromp, António Rosa Rodrigues, Francisco Stromp, William Morice e Armour.