25 de Maio de 1980. Na jornada anterior, antepenúltima do Campeonato, enquanto o Sporting derrotava no Alvalade o Beira-Mar por 2-0, o FC Porto empatava na Póvoa com o Varzim. Os leões assumiam então o comando da prova devido à vantagem no confronto direto com os portistas. Quase tudo poderia jogar-se em Guimarães, última deslocação do Sporting antes da derradeira jornada no Alvalade frente ao União de Leiria (frente ao qual não era crivel que os leões desperdiçassem pontos).

Desde a noite anterior ao jogo a “cidade berço” foi positivamente invadida por adeptos sportinguistas com as suas bandeiras, bonés e cachecóis. Na manhã seguinte o centro da cidade estava praticamente intransitável, tantos eram os sportinguistas presentes. No Estádio Municipal de Guimarães, com cerca de 30.000 pessoas a assistir, o Sporting (orientado por Fernando Mendes) alinhou com: Fidalgo; José Eduardo, Bastos, Menezes e Barão; Eurico; Ademar (Freire) e Fraguito (Zezinho); Manuel Fernandes (cap), Manoel e Jordão.

À entrada em campo o Sporting parecia jogar em “casa”, com os calorosos aplausos da sua imensa falange protetora. Os jogadores agradeceram aos 3 setores do estádio onde estavam os seus adeptos numa tarde magnífica de sol. O jogo em si, apesar de decisivo, foi de grande qualidade. Mau grado sentir o peso da responsabilidade, o Sporting arrancou (principalmente na 1ª parte) talvez a melhor exibição da época, com um futebol vistoso, objetivo e sempre virado para a baliza adversária.

A equipa leonina entrou em jogo com agressividade tomando a iniciativa e obrigando o adversário a correr atrás da bola. Jogando claramente com 3 homens na frente (Manuel Fernandes, Manoel e Jordão) o Sporting “pegou” na partida muito por ação de Fraguito e do capitão Manuel Fernandes, que foram os grandes homens da tarde – o primeiro planificando e organizando o jogo com grande mestria e o segundo, jogando pela direita, aplicando os seus sprints e dribles irresistíveis.

Logo aos 2 minutos, numa bela jogada, Manuel Fernandes viu-se perante Melo, sobre a direita, mas quase sem ângulo, acabando por falhar o golo (solicitar Manoel ou Jordão teria sido a melhor opção). Com o tempo os leões foram acentuando o seu domínio porque marcar era imperioso. Os lances de perigo junto da grande área minhota sucediam-se assim como os pontapés de canto. Finalmente, o único golo da partida surgiu, marcado aos 32 minutos. Na sequência dum cruzamento por alto para a área vimaranense, Manaca e Jordão disputaram a bola de cabeça tendo o defesa local introduzido a bola na sua própria baliza.

Na 2ª parte o jogo foi mais equilibrado mas ainda assim o Sporting desperdiçou várias ocasiões para marcar. Apesar de tudo o Vitória subiu de produção, salientando-se nesse período a exibição impecável do defensor brasileiro leonino Paulo Menezes, simplesmente intransponível. Logo aos 50 minutos Manuel Fernandes voltou a desperdiçar uma boa hipótese para marcar. 15 minutos depois foi Jordão a rematar ao poste após um excelente trabalho individual, e Manuel Fernandes a cair (de forma suspeita) na área quando se preparava para recargar. À passagem da meia-hora começou a notar-se aluma fadiga entre os leões, a equipa começou a pensar (compreensivelmente) em defender o precioso 1-0. Pode dizer-se que o último quarto-de-hora foi algo penoso para os verde e brancos com os lances a sucederem-se nas imediações da sua área, o mais perigoso de todos a 12 minutos do fim quando, respondendo a um centro bem medido, Vítor Manuel (um ex-leão) rematou ao ângulo sem deixar cair a bola no chão respondendo então de forma superior o guarda-redes Fidalgo com uma defesa espantosa, todo no ar, chocando depois com o poste (uma parada que pode bem ter valido um título).

Na cabina do Sporting o ambiente era já de alguma euforia no final da partida. Nos balneários correu mesmo champanhe. Fidalgo era dos mais parabenizados pela fantástica defesa perto do fim e chorava de alegria: “Toda a malta está de parabéns. O Sporting tem de ganhar este Campeonato porque o merece”. O capitão Manuel Fernandes afirmou: “Criámos bastantes oportunidades de golo mas não as conseguimos concretizar. É certo que alguns jogadores acusaram nervosismo e eu próprio falhei alguns golos por esse motivo. Vamos entrar numa semana em que teremos de trabalhar como o temos feito até aqui. A nossa equipa não é formada por vedetas mas sim por trabalhadores honestos dentro do campo”. Jordão também estava radiante: “Já há muito tempo que pensamos ganhar este Campeonato, não é de agora. Até este momento temos sido melhores que o FC Porto cujos jogadores e dirigentes se intitulam a melhor equipa portuguesa e não só… mas no próximo domingo vamos mostrar que somos melhores do que eles”.

O regresso a Lisboa e aos outros mais diversos pontos do país foi feito em festa pelos sportinguistas. O título estava ali tão perto!

No outro lado da barricada estava o FC Porto que não soube aceitar desportivamente a derrota. Pinto da Costa lançou suspeitas de suborno a Manaca, autor do golo e ex-jogador do Sporting, que se defenderia tremendamente sentido: “Não fui subornado pelo Sporting mas estava aliciado pelo FC Porto. Com a derrota do Vitória também eu fiquei a perder 100 contos, mais a quota-parte que me coubesse de um jogo com o FC Porto com receita a dividir pelos jogadores.”

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