4 de Junho de 1916. Depois de vencer as primeiras edições da Taça de Honra e da Taça Amadora em finais frente ao Benfica, verdes e vermelhos voltaram neste dia ao despique para a disputa de mais um troféu – a 2ª Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Para tal os leões bateram o Império por 5-0 na meia-final, e menos de 1 mês depois do último desafio, voltavam a ter o ensejo de “depenar as águias”.

O jogo teve lugar no Stadium de Lisboa, propriedade de José Alvalade. A direção da AFL procurou dar-lhe ambiente de jornada grandiosa, espetacular, magnífica. Para isso convidou o Chefe de Estado, representantes do ministro do interior e do governador civil, e os ministros de Inglaterra, Argentina, Brasil e Espanha, solicitando, também, ao Carcavelos que convencesse o seu mítico jogador Henry Frood a arbitrar a partida. Na assistência esteve presente a “nata” da sociedade lisboeta, registando-se a afluência de muitas senhoras.

O Sporting alinhou com: Paiva Simões; Amadeu Cruz e Jorge Vieira; Raúl Barros, Artur José Pereira e Boaventura da Silva; Marcelino, Jaime Gonçalves, Francisco Stromp, Perdigão e Armour.

O pontapé de saída foi dado pela “encantadora menina” Dorothea Carnegie, filha do ministro da Inglaterra. A partida começou com um vento tremendo, favorável ao Sporting, que conseguiu adiantar-se no marcador com um golo do jovem Jaime Gonçalves – foto de arquivo (seria o único remate certeiro da partida).

Segundo o periódico “Sport Lisboa”:  “No 2º tempo foi o bom e o bonito… Apanhando-se em vantagem, os leões procuraram defender o resultado com o recurso ao lançamento das bolas para fora, o chamado queimar tempo”. Segundo o jornal, na prática orgão oficial do Benfica: “Boaventura da Silva e Artur José Pereira, dois ex-benfiquistas, utilizaram esse sistema sem contemplações, rindo-se de si próprios e da sua proeza, mandando a bola constantemente em direção ao público que os assobiava”. No mesmo jornal podia ler-se algo ainda pior: “Jorge Vieira corria para a bola, que já saira do campo, e chutava-a- para o horizonte distante por sobre esse público que silvava de indignação”.

A certa altura os assistentes invadiram mesmo o terreno de jogo incitando os jogadores benfiquistas a abandonar o desafio. Aí veio ao de cima o bom-senso, e utilizando a sua popularidade e prestígio, os futebolistas encarnados contribuiram para restabelecer a ordem, (o que só se conseguiu depois de várias cargas de cavalaria) cumprindo o seu dever desportivo até ao fim. Todos os benfiquistas o fizeram, menos um – Henrique Costa, o único que “teve a fraqueza de sair, e logo aquele que, como capitão, mais tinha o dever de ficar. As principais qualidades de um capitão devem ser a serenidade e a calma” – o antigo jogador do Sporting seria repreendido pelo seu clube, suspenso por 2 meses e destituído das funções de capitão do Benfica. A AFL puniu-o com 5 meses de suspensão, mas pouco depois a direção benfiquista amnistiou-o, restituindo-lhe o cargo de capitão.

É notória a parcialidade do orgão noticioso benfiquista na análise a este jogo. Tremendamente desiludidos por mais uma derrota num jogo que por eles era considerado de desforra definitiva da derrota na Taça Amadora, os adeptos encarnados sobrevalorizaram o recurso dos sportinguistas a um natural “deixa andar” do jogo, que ainda por cima estava muito equilibrado e sob condições climatéricas excessivamente rudes, perante as quais se tornava quase impossível desenvolver um jogo coletivo aceitável. Ainda assim, este foi considerado por muitos o 1º grande escândalo do Futebol português…

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