9 de Junho de 1974. Surpreendentemente, num processo sem contornos muito claros, Mário Lino tomou (ou tomaram por ele) a decisão de se afastar do comando técnico da equipa do Sporting mesmo antes da final da Taça de Portugal. Pelo que se ouviu, Lino não estava satisfeito com a organização interna do clube… Comunicou a sua decisão aos jogadores (na preleção) no dia em que o Sporting recebeu e venceu a Portuguesa de Santos por 4-0 na festa do título. Apesar da incredulidade da maioria dos jogadores a equipa chegou motivada ao Jamor para tentar a “dobradinha” 20 anos depois. Sem poder contar com Yazalde – que se encontrava na Alemanha debelando uma lesão, a turma leonina alinhou num sistema um pouco diferente do habitual, mais cauteloso.

Osvaldo Silva orientou o conjunto, que alinhou com: Damas; Manaca, Bastos, Alhinho e Baltazar; Nélson, Vagner (Dani), Paulo Rocha (Chico) e Dinis; Marinho e Dé.

O Benfica entrou em campo na firme disposição de se “vingar” das agruras do Campeonato. Aos 33 minutos os encarnados abriram o marcador. Com um passe longo, Toni colocou a bola nas costas da defesa leonina. Jordão conseguiu isolar-se e quando Damas saiu perto dele o angolano assistiu Nené (provavelmente em fora-de-jogo) que marcou com toda a facilidade. O Sporting procurou reagir, puxando dos galões de campeão, mas só aos 88 minutos conseguiu chegar ao empate. Marinho, em grande velocidade, centrou da extrema direita e Chico elevou-se muito bem, fazendo de cabeça o golo.

O final chegou com um empate, pelo que houve que recorrer-se a um prolongamento de 30 minutos. A preciosa vitória verde e branca surgiu aos 107 minutos. Precipitadamente, Artur colocou a bola nos pés de Chico, que quando parecia a todos ir rematar, vendo que não tinha o melhor ângulo, optou por passar para Marinho que atirou certeiro.

Em suma, este foi um jogo que, a certa altura, o Benfica pareceu ter controlado mas esta equipa do Sporting nunca foi “de fiar”, acabando por conseguir os seus intentos. Ao marcarem um golo e “darem” outro, Chico e Marinho foram as grandes figuras desta final, bem como Damas, o capitão, que evitou golos certos a Jordão e Eusébio, para além de outras meritórias intervenções que possibilitaram um não avolumar da desvantagem (que depois seria convertida em vitória).

No final, entre leões, todos abraçavam todos. Risos de alegria, lágrimas de felicidade e de raiva. Baltazar estava feliz como nunca: “Estou eufórico sobretudo por causa de alguns jogadores do Benfica. Queriam o jogo do tira-teimas e ainda lhes demos um de avanço… Talvez isto lhes sirva de lição para pensarem melhor no que dizem e em como falam dos colegas de ofício. Não levaram mais porque não calhou”.

O treinador Osvaldo Silva, chamado à última hora para substituir Mário Lino, afirmou: “Foi uma boa partida em que as duas equipas tentaram e conseguiram praticar futebol de primeira qualidade. O resultado está certo pois o Sporting foi a melhor equipa, a que se empenhou mais num espetáculo magnífico”.

Adelino da Palma Carlos, Primeiro-Ministro, aproveitou para que João Rocha e Borges Coutinho, presidentes dos leões e das águias, fizessem as pazes com um abraço em nome da Liberdade depois dum longo período de relações cortadas entre os clubes

O capitão Vítor Damas chegou ao balneário com o troféu nas mãos (depois de o ter recebido na tribuna para onde foi escoltado por soldados, tal era a confusão e aglomeração de pessoas), o que aumentou ainda a festa: “O jogo foi disputado taco-a-taco, com muita emoção. Não atingiu melhor nível técnico devido ao adiantado da época, com os jogadores já saturados. Vestimos o fato-macaco e conseguimos justamente o triunfo”.

Com esta vitória (a 9ª na Taça de Portugal) os jogadores leoninos receberam 1.000 contos, para divisão equitativa por todos eles.

Na foto, a equipa da final. De cima para baixo e da esquerda para a direita: Vagner, Alhinho, Nélson, Baltazar, Bastos e Dinis; Manaca, Marinho, Damas, Paulo Rocha e Dé.

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