3 de Julho de 1984. Na 5ª etapa da Volta a França em bicicleta, Paulo Ferreira conseguiu o feito de, pela 1ª vez (e única até à atualidade), um atleta equipado à Sporting vencer uma etapa da “prova rainha” do Ciclismo mundial.

Ferreira era um jovem sprinter, mas soube aproveitar a sua oportunidade. Aos 7 dos 207km da etapa entre Bethune e Cergy-Pontoise arrancou destemido numa aventura que parecia pouco credível. Aos 15km recebeu a companhia de Maurice Le Guilloux e ao quilómetro 22 juntou-se-lhes Vincent Barteau. Os 3 funcionaram muito bem em equipa,e pouco mais de 4 horas depois, já com a localidade da chegada à vista, Paulo Ferreira fez valer as suas capacidades de sprinter e perante a surpresa geral venceu a etapa a uma média que se aproximou muito dos 43km/h. Afirmou depois: “Além de dignificar a equipa do Sporting, esta era a melhor homenagem que poderia prestar ao meu companheiro Joaquim Agostinho, nome grande da História do Tour”.

Na chegada a alegria foi incontida dos muitos emigrantes portugueses. Ferreira chegou assim ao 3º lugar da Geral, algo efémero mas significativo. Curiosamente, exatamente 15 anos antes, Agostinho vencia a etapa Nancy-Moulhouse, o que aconteceu pela 1ª vez com um português na Volta a França, numa aventura solitária de dezenas e dezenas de quilómetros.

A glória foi efémera. Na 10ª etapa Paulo Ferreira deixou fugir o 3º lugar para Laurent Fignon. À 18ª (à entrada dos Alpes) chegou fora do controlo e foi eliminado. Resignado, afirmou: “Há dias que andava mal, a fazer um sacrifício enorme, a fim de não desistir. Fiz tudo quanto pude para não ser eliminado. Descolei na subida da 1ª montanha mas um vento forte e subidas valentes obrigaram-me a correr sozinho 160 km, pelo que cheguei atrasado.”

Não muito tempo depois, em Portugal, dedicar-se-ia ao ofício de mecânico na nostalgia daquele dia em que o Mundo, espantado, tanto falou dele.

A caravana do “Tour” não se esqueceu de Joaquim Agostinho, e em Crans-Montana render-lhe-ia homenagem póstuma, tendo o camisola amarela e grande estrela da altura, Laurent Fignon, entregado a Fiel Farinha (dirigente do Sporting) uma medalha de “profundo sentimento do Tour pela morte de Agostinho”.

Coletivamente (entre as equipas que terminaram) o Sporting classificou-se no último lugar na chegada a Paris, mas Marco Chagas (77º) e Manuel Zeferino (94º) conseguiram classificar-se nos 100 melhores.

Fiel Farinha, que chefiou a comitiva leonina, fez no final o balanço da competição: “O Tour foi positivo para nós. Fizemos coisas com que ninguém contava.  Andámos por cá com muitos ciclistas até ao fim e ganhámos uma etapa”. Emídio Pinto, o responsável pela orientação da equipa teve opinião semelhante: “Acho que chegar a Paris com uma equipa formada por 8 ciclistas é uma vitória do Ciclismo do Sporting. Se tivéssemos dito isto à partida, se disséssemos que íamos chegar aos Campos Elísios com tanta gente, chamavam-nos malucos. Não viemos com a preparação conveniente. Todavia, estes ciclistas vão ser o trampolim do Ciclismo português”.

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