9 de Agosto de 1970. Finalmente, Joaquim Agostinho chegou ao triunfo na Volta a Portugal em bicicleta (o ano anterior o título tinha-lhe sido usurpado por, estranhamente, ter acusado doping…), provando que não precisava de recorrer a meios ilícitos para ser, de longe, o melhor. O 2º classificado, Firmino Bernardino (também do Sporting), ficou a 6m59s. Coletivamente o Sporting também venceu (pela 8ª vez) deixando o FC Porto (2º) a 19m42s.

O domínio de Agostinho e do Sporting evidenciou-se desde a primeira pedalada. Os leões obtiveram outras honras: Classificação por pontos – Leonel Miranda; Prémio da Montanha – Firmino Bernardino; Combinado – Joaquim Agostinho.

Na última etapa, nesse dia, contra-relógio de 35km entre Vila Franca de Xira e Lisboa. Enquanto os outros pedalavam, Agostinho parecia deslizar pela estrada tal a elegância e a eloquência do seu andamento. Ao longo dos 35km Agostinho foi aplaudido incessantemente com um alarido tremendo. Com uma pedalada forte, decidida, cara fechada e sentido de responsabilidade, Agostinho chegou em glória a Alvalade onde se perdeu num “mar” de abraços, alvo de uma apoteose fantástica.

A classificação de todos os leões na competição: 1º Joaquim Agostinho (à média de 37,864km/h), 2º Firmino Bernardino, 5º Leonel Miranda, 13º Regis Delepine, 16º José Vieira, 19º Vítor Rocha, 20º Albert Fritz, 21º Emiliano Dionísio, 33º Manuel Luís, 36º Manuel Mendes.

O técnico do Sporting era Sérgio Páscoa, de 31 anos, que ainda no ano anterior tinha feito a Volta a Portugal como ciclista. No final declarou-se satisfeitíssimo: “Tudo correu de forma maravilhosa. Obtivémos os melhores prémios, as posições mais honrosas. A Volta foi bem disputada, o Sporting ía mentalizado para ganhar, os corredores sabiam o que queriam e os reforços Fritz e Délépine vieram mesmo reforçar o coletivo”.

O contra-relógio final foi relatado pela Emissora Nacional. O público de Alvalade, com transistor na mão, acompanhava todas as incidências e ía sendo informado metro a metro da diabólica prova do seu herói. O auge veio quando Agostinho entrou em Alvalade. O público levantou-se, aplaudio-o com vibração, atirou-lhe serpentinas, dedicou-lhe cartazes de elogio. Depois Agostinho deu as voltas de honra, referindo no final: “Vim para a prova para fazer a minha corrida e nada mais. Aproveitei as oportunidades que se me depararam. As etapas variam muito e o Ciclismo é um desporto muito sensível. Este não foi o meu 1º triunfo na Volta, o ano passado também ganhei, não sei como explicar o que se passou”.

Para Joaquim Agostinho esta vitória foi de grande importância pois permitiu moralizá-lo e afastar o espetro de que não conseguia uma vitória retumbante em Portugal, isto mesmo tendo em consideração o facto de ser Campeão Nacional de fundo há 3 anos, uma prova que, no entanto, não possuía o prestígio nem a divulgação da Volta a Portugal em bicicleta.

Aliás, esta foi mais uma época notável de Joaquim Agostinho. O 1º grande triunfo aconteceu no já referido Campeonato Nacional de Fundo, no qual o sportinguista obteve o seu 3º título consecutivo superando por 2m16s o benfiquista Fernando Mendes. Poucos dias depois o magnífico ciclista do Sporting partiu para o “Tour” de França tendo afirmado que não iria para a “prova rainha” do Ciclismo mundial para fazer número. Na verdade, assim aconteceu. Pela 2ª vez foi-lhe atribuido o prémio da combatividade. Pena foram os problemas no seio da equipa pois os seus colegas não o ajudaram convenientemente a chegar o mais longe possível. Assim, o 14º lugar final soube a frustração, amenizada pela palavras do campeoníssimo Eddy Merckx, vencedor na competição: “Agostinho é um fora-de-série, é um ciclista de grande, de enorme valor. Tenho para mim que Agostinho pertence ao grupo daqueles que, quando pressinto que ele está para atacar, ataco eu que é para não lhe dar chance nenhuma e continuar a ter a corrida na mão.”. Já nos Campos Elíseos, Louis Caput, ex-orientador técnico da Frimatic, atual equipa de Agostinho, referiu que, sem se querer imiscuir no trabalho da sua antiga equipa: “O que faltou a Agostinho foi uma orientação adequada e uma equipa que ajudasse. Não se tenham dúvidas. Depois de Merckx, Joaquim Agostinho foi o melhor dos ciclistas presentes neste “Tour” e poderia ter sido o 2º. Excluindo o excecional belga, foi ele que demonstrou possuir, pelo menos, mais força.”.

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