26 de Agosto de 1902. Nesse dia surgiram os primeiros sinais daquele que viria a ser o Sporting Clube de Portugal. Em Seteais juntou-se um grupo de rapazes para jogar Futebol (modalidade que por essa altura constituia uma verdadeira novidade no país) no Campo de Belas com a presença do Rei D. Carlos, da Rainha D. Amélia e do Infante D. Manuel, entre muita outra ilustre assistência.
Nessa tarde quente de Verão os irmãos percursores, Francisco e José da Ponte e Horta Gavazzo, juntaram os amigos Alberto Machado e o irmão Henrique, Armando Gonçalves da Cunha Ferreira e o irmão João, Alfredo de Oliveira Belo, António Bebiano e o irmão Artur, Artur da Cunha Lemos e o irmão José, Eduardo Luís Pinto Basto e o irmão Fernando, Fernando de Sousa Coutinho e o irmão José Luís, Hermano Alves Braga, Pedro Joyce e o irmão António, Raul Aboim, Rodolfo Futcher Ferreira e um farmacêutico da vila, chamado Malheiro.
Ao grupo deram o nome de Sport Clube de Belas, que na festa da Nossa Senhora do Cabo defrontaram uma equipa de Sintra num campo decorado com palanques e tribunas. Os de Belas equiparam com camisas de flanela branca com um escudo sobre o bolso, com uma contrabanda azul limitada a ouro sobre campo branco e as iniciais SC bordadas também a ouro no flanco direito e a inicial B no esquerdo, calções, cintos e meias azuis, chapéu (à inglesa) de gomos azuis debruados a branco com o escudo do clube e botas compradas na Casa Sena por seis mil e quinhentos réis.
O Sport Clube de Belas alinhou nessa tarde com Francisco Gavazzo na baliza, Eduardo Luís Pinto Basto (capitão) e Bernardo Alves na defesa; Pedro Joyce, José Gavazzo e Alfredo Belo como médios; António Joyce, Alberto Machado, Fernando Pinto Basto, Artur Bebiano e Hermano Braga a avançados.
Venceram por 3-0 perante um adversário bem mais poderoso fisicamente e com 3 ingleses e 2 irmãos de Jorge Vieira (o tal que se viria tornar anos mais tarde num “símbolo” do Sporting), João e Francisco, recrutados em Lisboa.
Como prémio D. Carlos entregou à equipa vencedora um prémio, que consistiu num estojo de 50kg, niquelado, contendo um licoreiro. Em Belas fez-se uma recepção a preceito à equipa (com fogo de artifício) num clima de grande euforia.
Pouco tempo depois a mesma equipa de Sintra foi convidada pelos de Belas para um festival desportivo. Para premiar os vencedores foram adquiridas medalhas a ser disputadas em diversas modalidades. De novo contra as expectativas foram agora os sintrenses a ganhar tudo. Só no Futebol a marca chegou a 14-0!… e nas corridas de bicicletas, nas provas de sacos e nas corridas pedestres, foram os mesmos a ganhar tudo.
Os de Belas sentiram então, e pela 1ª vez, a amargura da derrota, mas isso não os fez esmorecer. Após as férias o grupo continuou a juntar-se e a jogar Futebol, umas vezes em Alcântara e outras na Tapada da Ajuda. Entretanto, homens como Alberto e Henrique Machado, Álvaro da Fonseca, Carlos e Raúl da Câmara Leme, Carlos Santos, Jorge Sabugosa (conde de Murça), Manuel Galveias (conde da Lapa), Pedro Galveias e Pedro Sabugosa foram-se juntando ao grupo.
Com o passar do tempo o colectivo foi-se desvanescendo, e grande parte dos seus elementos aderiu ao Clube Internacional de Futebol. Aqueles que não o fizeram decidiram, em 1904, fundar um clube diferente, moderno, virado para o futuro, ao qual chamaram Campo Grande Football Club.
Sob grande influência dos irmãos Gavazzo, José Alvalade, Alberto Lamarão, António Félix da Costa Júnior, Carlos Bon de Sousa Carneiro, Carlos e Fernando da Motta Marques, Eduardo Mendonça, Fernando Barbosa, Frederico Kohn e José Stromp, instalaram-se no quarto de Francisco Gavazzo (no solar dos Pinto da Cunha, no Campo Grande) onde residia a sua família.
Rapidamente a nova agremiação dispôs de campo de jogos num terreno da quinta do visconde de Alvalade, no sítio da Mouras, com entrada pela Alameda das Linhas de Torres. Até 1906 a actividade do novo clube foi imensa, com jogos de Futebol e Ténis, corridas pedestres e saltos, para além de pomposas festas e provas femininas, sobretudo Ténis, onde mais tarde se viria a destacar Helena Stromp, uma das melhores jogadoras da modalidade nos primeiros tempos do Sporting.
Pouco a pouco começaram a criar-se duas facções no clube, uma mais virada para a actividade desportiva, outra mais interessada nas festas e vida mundana. Em Março de 1906 o Campo Grande Football Club realizou um encontro desportivo, o maior da sua curta História, que incluiu saltos em altura e em comprimento, corrida de sacos, corrida de velocidade, corrida de obstáculos, jogo de Futebol, saltos a cavalo, corrida de burros (velocidade), corrida de cavalos, corrida de burros (obstáculos) e jogo da rosa. Carlos Lamarrão (corrida de velocidade), Fernando Pinto Basto (100 metros obstáculos, saltos em altura e em comprimento) e José Manuel Barjona (corrida de resistência) foram os grandes vencedores do evento.
Poucos dias depois a ala desportista do Campo Grande Football Club insurgiu-se contra o excesso de festas, e a 19 de Março de 1906 decorreu a última manifestação do Campo Grande Football Club (que constituiu um acontecimento destacado nas crónicas sociais dos jornais da época) reunindo personalidades da “melhor sociedade” lisboeta, de tal modo que, no copo-d’água estiveram cerca de 500 pessoas. Para além da dança e da moda houve também desporto, onde Fernando Pinto Basto foi mais uma vez figura de proa.
Foto: Uma das formações do Campo Grande Football Club.