4 de Outubro de 1959. Sob o comando de Fernando Vaz o futebol do Sporting tinha a legítima pretensão de voltar aos títulos. A equipa começou a época em grande estilo. Após duas vitórias deslocou-se às Antas para defrontar os campeões nacionais do FC Porto.

O Estádio portista registou uma magnífica assistência para essa partida da 3ª jornada do Campeonato Nacional. A equipa: Octávio de Sá; Lino, Morato e Hilário; David Julius e Mendes; Hugo (cap), Péridis, Fernando, Diego e Ferreira Pinto.

A verdade é que o Sporting fez uma exibição magnífica. Nos primeiros minutos o jogo até foi algo equilibrado, apesar de já se notar uma melhor predisposição leonina. Aos 12 minutos surgiu o 1-0. Hugo centrou e Fernando rematou com muito pouca força. A bola ficou então na posse de Diego, que perante alguma hesitação da defesa portista, não teve dificuldades em inaugurar o marcador.

O Porto não acusou muito o “toque”, e 12 minutos depois, uma bola cabeceada por Noé e devolvida pela barra, gerando grande confusão, deu alento aos “donos da casa” que passaram a assumir o domínio das operações. O empate chegou então com naturalidade. Morais marcou um livre que mais parecia um canto curto, Noé cabeceou na direção de Monteiro da Costa, que acabou por deixar para Perdigão, e este entrando de rompante fez o golo.

O Sporting não tardou em responder mostrando-se uma equipa com grande saúde física e psicológica. Aos 38 minutos mais as coisas se facilitaram para os leões, pois após diversas intervenções violentas, Pedroto derrubou Péridis, recebendo ordem de expulsão. A 1 minuto do intervalo uma rápida jogada entre Diego e Fernando deu a hipótese a este de fazer o 2-1. Antes do descanso Lino ainda salvou o Sporting cortando sobre a linha uma bola cabeceada por Noé.

A 2ª parte foi totalmente favorável ao Sporting, que alardeou grande criatividade e poder de concretização. Aos 55 minutos, de cabeça, Diego colocou o resultado em 3-1 concluindo um livre apontado com mestria por Péridis. Apesar do resultado o Sporting não baixou a guarda chegando ao 4-1 por Fernando aos 59 minutos.

Até final os sportinguistas jogaram de forma fluente e fácil, perdendo uma boa “mão cheia” de excelentes oportunidades para dilatarem o marcador. A “locomotiva” David Julius foi o melhor duma equipa que “vendeu” qualidade. Sempre em movimento, com um sentido notável de entreajuda para com os companheiros, fez uma atuação fantástica. No ataque, talvez se possa nomear Diego como o mais esclarecido, enquanto o bloco defensivo se voltou a exibir de forma segura.

No final o ambiente era de festa na cabina leonina. Trocavam-se abraços e todos os jogadores exultavam. Diego e Fernando, de mãos dadas, cantavam uma canção exótica que terminava com “hurrahs” e vivas. Hilário, o homem que chorava com as vitórias, não deixou a tradição para trás. Fernando Vaz, o treinador, afirmou: “O Sporting foi sempre a melhor equipa em todos os aspetos do jogo, mormente na retenção de jogo e ordenação do mesmo no meio-campo. É verdade que a expulsão de Pedroto facilitou, mas era muito difícil perdermos este desafio. Foi admirável o desportivismo dos jogadores portistas a quem não quero deixar de saudar”.

Um facto muito curioso esteve ligado a este jogo. Desde há muito que a equipa leonina sempre que se deslocava ao Porto estagiava em Oliveira de Azeméis, onde existia uma macaca que era o seu amuleto. Os jogadores adoravam-na e os resultados frente aos portistas costumavam ser favoráveis. A fama da macaca ganhou alento e circulou. Um dia  a equipa chegou a Oliveira de Azeméis e viu que a “macaca da felicidade” havia desaparecido. Seria um rapto? Uma morte violenta? Um casamento de conveniência? Nada disso. Um conhecido portista, Sebastião Ferreira Mendes, sabendo dos seus “estranhos atributos”, decidira num golpe audacioso comprar a macaca. Pelo menos poderia ficar de consciência mais tranquila, o Sporting, se vencesse, não venceria pelo empenho daquele exótico “12º jogador”. E ciosamente a guardou na Quinta da Fonte Vinha. O Sporting começou então a vacilar, e de 1947/48 a 1958/59 não mais voltou a ganhar no reduto dos portistas (mesmo nas épocas áureas dos “violinos”). A macaca não saía da memória dos jogadores, técnicos e dirigentes sportinguistas, que, inclusivamente, deixaram de estagiar em Oliveira de Azeméis, quiçá na ânsia da descoberta de outro qualquer misticismo ou coisa que o valesse.

Ao fim de muito tempo e inúmeros insucessos o Sporting voltou a ganhar, precisamente no jogo que mencionamos neste texto,  marcado por uma série de contratempos dos portuenses. O mais bizarro é que nesse dia morreu a macaca! Um afilhado de Sebastião Ferreira Mendes, sportinguista apaixonado, correu a dizer que fora obra do “além”: “A macaca morreu e lá do outro mundo, ela que se recordou dos primeiros amores, não deixou de pedir pelo Sporting. Foi ela que fez o milagre”… E, talvez por tudo isso, se começou a empregar no desporto a expressão que ficaria popular: “mas que sorte… macaca”!

Foto: O magnífico atacante brasileiro Fernando em acção (Hilário observa ao longe) na excelente vitória nas Antas por 4-1.

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