10 de Novembro de 1957. À partida para a 10ª jornada do Campeonato Nacional o Sporting seguia na frente com 8 vitórias e 1 empate. O Benfica já levava um atraso de 6 pontos, e só uma vitória poderia ainda animar os encarnados na luta pelo título. O jogo teve, por isso, um ambiente especial, podendo dizer-se que o Estádio Alvalade teve a maior enchente da sua “curta vida”, maior ainda que na inauguração. Orientado por Enrique Fernández, o Sporting alinhou com: Carlos Gomes; Caldeira e Pacheco; David Julius, Galaz e Osvaldinho; Hugo, Vasques, Vadinho, Travassos (cap) e Martins.
Paradoxalmente, foi o Benfica que pareceu entrar mais descontraído no jogo. Os leões mostravam-se nervosos e intranquilos. Apesar disso os encarnados não conseguiam criar perigo e foi o Sporting a abrir o marcador numa jogada de contra-ataque aos 28 minutos. Pelo flanco direito Vadinho tocou a bola ao seu interior Vasques, este rodeou Calado e aplicou um remate sem grande força que fez a bola entrar surpreendentemente junto ao poste esquerdo da baliza encarnada, cujo guardião (Costa Pereira) se demorou muito a lançar…
Este tento funcionou como uma “descarga energética positiva” para a equipa do Sporting, que se soltou e passou, então sim, a mandar no jogo. Os leões mostraram a partir daí um futebol adulto, largo e envolvente, simples mas bem elaborado. Até ao intervalo esperou-se sempre mais um golo leonino (apesar da boa réplica benfiquista) mas ele não surgiu.
Na entrada para a 2ª parte a partida mostrou as mesmas caraterísticas. A defesa do Sporting meteu sempre “no bolso” o ataque do Benfica, que nunca chegou a dar a sensação de poder marcar. Aos 53 minutos surgiu, finalmente, o 2º golo. Desta vez foi Vasques a fazer a bola passar por cima da cabeça de Artur, assistindo depois Vadinho. Este rematou de forma fantástica, com a bola ainda no ar, batendo inapelavelmente Costa Pereira.
O final acabou por chegar com 2-0, não sem que antes os sportinguistas tivessem disposto de boas oportunidades para alargar a margem.
Na equipa leonina o defesa-esquerdo Pacheco esteve impecável, roçando mesmo o brilhantismo. Vasques voltou a exibir-se em excelente plano. Vadinho, “o mais europeu dos sul-americanos a atuar em Portugal”, aliando a técnica canarinha à voluntariedade europeia, fez um belo jogo. Travassos esteve ao seu nível, como construtor de jogo, disciplinador da equipa e inspirador do ataque. Martins fez lembrar os seus melhores tempos de extremo, com rapidez e desenvoltura técnica.
Nas cabinas do Sporting, no final da partida, todos estavam radiantes. Enrique Fernández dirigia uma palavra amiga a cada um dos seus jogadores enquanto o massagista Manuel Marques os abraçava, visivelmente emocionado. Muito calmo, o técnico leonino declarou: “Creio que não há dúvidas sobre o nosso triunfo. O Sporting foi mais prático, mais vertical, e sem fazer uma grande exibição venceu bem”.
Vasques marcou um golo algo esquisito: “A bola veio do Martins, dominei-a com dificuldade, mas logo que a tive a jeito rematei. Ia morrendo asfixiado com os abraços dos companheiros de equipa!”
Vadinho reconheceu a felicidade do seu belo golo: “Joguei a bola por cima da cabeça do guardião porque essa era a única maneira de o poder bater desde que ele saiu da baliza. Tive sorte em atirar no momento exato, mas no futebol a sorte também conta”.
Acrescente-se que, de prémio de jogo, cada futebolista do Sporting recebeu 1.500$ por este triunfo sobre o Benfica.
Foto (arquivo): Joaquim Pacheco, o melhor jogador em campo.