25 de Abril de 1948. Para ter francas hipóteses de revalidar o título de Campeão o Sporting precisava naquela tarde de vencer o Benfica, no Campo Grande, por mais de 2 golos de diferença. Parecia uma tarefa dificílima, mas com os argumentos de que dispunha, tudo se tornava viável para esta equipa do Sporting!

O ambiente no seio do clube não era dos melhores. Na véspera da partida alguns dirigentes leoninos acusaram o técnico Cândido de Oliveira de estar a delinear um táctica suicida para favorecer o clube do seu coração. Cândido virou-lhes as costas e no dia seguinte, o do jogo, surgiu algo distante junto aos seus jogadores. Não lhes ministrou qualquer palestra limitando-se a pedir-lhes que fossem eles próprios. A equipa: Azevedo; Álvaro Cardoso e Juvenal; Canário, Larguinho Moreira e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.

A vitória sportinguista admitia-se apesar da boa fase benfiquista e do período de menor fulgor leonino. Os leões fizeram um jogo veloz, chegavam quase sempre primeiro aos lances, com um acerto notável e uma forma física apuradíssima. A equipa funcionou como um bloco massiço e ficou a dever a si própria uma vantagem mais clara.

Só no 1º quarto-de-hora os benfiquistas conseguiram lutar de igual para igual, e só nos últimos instantes da partida forçaram para tentar anular a vantagem leonina no “goal-average” entre as duas equipas. O Benfica até entrou bem, mas aos 13 minutos, em contra-ataque, e beneficiando dum falhanço de Contreiras, Peyroteo cabeceou e Jacinto salvou sobre o risco. Logo a seguir surgiram duas belas defesas de Azevedo (esteve esplêndido no pouco trabalho que teve de fazer), e a partir daí o Sporting tomou conta do jogo.

Aos 27 minutos, após novo falhanço de Contreiras, Albano perdeu uma oportunidade de baliza aberta. Finalmente, aos 35 minutos, o Sporting abriu o ativo. Vasques conseguiu captar uma bola junto da linha lateral e centrou com precisão para junto da marca de penalty onde surgiu Peyroteo a cabecear com acerto. 6 minutos depois, após excelente troca de passes entre Vasques e Travassos, aquele abriu para Peyroteo que com um “bico” magnífico fez o 2-0 com que se chegou ao intervalo.

No início da 2ª parte o Benfica surgiu mais combativo, aproveitando o capitão Álvaro Cardoso todas as paragens de jogo para recomendar o posicionamento dos seus colegas. Rapidamente o Sporting voltou à mó de cima, e foi com naturalidade que aos 69 minutos conseguiu o 3-0. Canário assistiu Jesus Correia que, de primeira, pôs no meio em Peyroteo para este concluir com classe. O Sporting estava então, finalmente, à frente da classificação do Campeonato Nacional. A seguir, na recarga a um livre de Rogério, Moreira ainda obrigou Azevedo a defesa fantástica, mas aos 74 minutos Jesus Correia endossou a bola a Albano, no meio. Este pressentiu a presença de Peyroteo nas suas costas e limitou-se a pisar a bola, pará-la e afastar-se, surgindo então o magnífico avançado-centro a concluir o seu poquer pessoal com um remate forte em corrida. Logo no reatamento o Benfica reduziu por Espírito Santo em conclusão duma boa jogada coletiva.

Nos últimos momentos o Benfica lutou corajosamente mas com muito coração e pouca cabeça, acabando por ser o Sporting a estar sempre mais perto de ampliar a vantagem com contra-ataques rapidíssimos. O jogo foi corretamente jogado e presenciado, enquanto a arbitragem, se bem que imperfeita, acabou por ser muito mais fácil do que seria inicialmente de supor.

O Sporting chegara assim, um tanto inesperadamente, à liderança do Campeonato Nacional. A estratégia de Cândido de Oliveira funcionara na perfeição. Na euforia dos festejos declarou apenas que se demitira, afirmação que caiu como um balde de água fria entre os jogadores. Felizmente acabou por voltar atrás alguns dias depois, simplesmente porque o dirigente que insinuara o conluio com o Benfica, com os olhos em lágrimas, lhe foi pedir que reconsiderasse pois ele próprio já se demitira. Cândido de Oliveira sensibilizou-se e aceitou continuar se o dito dirigente também o fizesse, o que acabou por acontecer..

Muito curioso é o facto de que, muito pouco tempo após o termo da partida, Peyroteo tenha sofrido um ataque de reumatismo que o pôs de baixa por uns dias (imagine-se se havia sido umas horas antes…)

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